Vladimir Nabokov

NABOKV-L post 0017414, Tue, 2 Dec 2008 06:39:54 -0200

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Dmitri Nabokov, son of Vladimir ...
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S.Klein forwarded an article by Harry Williams*, titled "Sons and Lovers". David Rieff's and Dmitri's present choices concerning their parent's literary work were strangely linked to one of D.H.Lawrence's novels. I didn't get the point and, for the moment, I consider H.William's choice a poor in alusion and in bad taste, considering VN's dislike of D.H.Lawrence and to this novel in particular. H.W mentioned a BBC interview, one which I hadn´t bothered to watch until last Sunday[ http://news.bbc.co.uk/2/hi/programmes/newsnight/7735483.stm.] What a contrast bt. Stephen Smith ( Nov. 18) and H. Williams!

The delightful BBC interviews and images, among other things, exhibited a miniature chess-set, close to the lines in TOOL that mentioned "joggle".
It made me recollect TRLSK, because I'd spotted in it a possible reference to Adam de la Halle, member of the "Confrérie des jongleurs et bourgeois d'Arras," during the decline of courtly love and chivalry. "Robin et Marion", one of Adam's seventeenth century "musical comedies" depicts how a knight tries to rape a young peasant girl and how her lover, Robin, "didn't hit back" (cf. initial title of SK's novel "Success" in TRLSK).
The video caption broke my numbness in relation to mediatic repetitions and TOOL...
In "The Nabokovian", n.42 (Spring 1999) we read, on page 37: "the pin-sized pawns penetrated easily, but the slightly larger noblemen had to be forced in with an enervating joggle." S.Smith was then high-lighting sexual allusions in TOOL: how Flora "knew all the moves", like young Daisy before her, plus those other almost innocent words, "penetrate", "tickly-looking little holes",aso - among less perspicuous others ( "had loved the en passant trick...""though he tried to prepare those magic positions where the ghost of a pawn can be captured on the square it has crossed").
Chess-moves and problems, not only crude sexual innuendoes, are indicated, as well as the contrast between the more agile pawns and "nobility" ( similar in spirit to the medieval verses). This is why I felt inclined to give a second look to this "enervating joggle".
In its glaringly obvious sense "joggle" means: "shake or move by or as if by repeated jerks". Nevertheless it also bears ghostly pawns and real conjuring tricks ( in its present association to "juggler", "joggling" and "jongleur"). Such an "enchanter's" move might then metamorphose what VN had disdainfully treated in his afterword to "Lolita" - qua pornographic novels and "real fairy tales"- into one of Nabokov's real challenges and "chess-moves" in TOOL.
Btw: Boticelli's allegory of Spring (mentioned in LATH, linked to Lolita by another Boticelly painting) takes us to VN's choice of the name "Flora" - and what about "Laura"?.

In relation to "metamorphoses", last Sunday, in an important newspaper in SĂŁo Paulo (OESP, Nov.30,2008) cartoonist humorist and critic Luiz Fernando VerĂ­ssimo dedicated almost all his space to Nabokov and Kafka's Gregor Samsa. He was then discussing a recent Nov.20th holiday, set in homage to runaway slave Zumbi dos Palmares and the "dia Nacional da consciĂŞncia Negra.". VerĂ­ssimo examined the etymology of the word "Zombie" in English (obtained from Marina Warner's Fantastic Metamorphoses, Other Worlds) and how Zumbi's heroism and initiative was distorted when metamorphosed into "Zombie". VerĂ­ssimo's comments - he is one of Nabokov admirers in Brazil - on VN's lecture on Kafka didn't sound very appreciative, though ( VN doesnt' bring up any interpretation, at least there is none with an undeniable personal mark. He notes certain recurring incidents in the text with the number three but recommends that these are not to be taken as coincidences that bear any symbolism, they are more "technical" in nature...) , but then VerĂ­ssimio didn't sufficiently account for VN's strong distaste of any critical "allegory-reading" into R.L.Stevenson's J&H and Kafka's "specific fantasies".
VerĂ­ssimo's closing lines quote VN, "I knew a man who awoke as the Emperor of Brazil"...**
( I haven't yet obtained VerĂ­ssimo's URL , only the loose text; VN's lines on "Emperor of Brazil" are on p.260, Bowers LOL).




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* [ http://www.newstatesman.com/blogs/arts-blog/2008/11/published-paint-campaign ]
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** The complete article:
OESP/Caderno 2 - domingo, 30 de Novembro de 2008
Verissimo

Vladimir Nabokov era um lepidopterĂłlogo, palavra que lembra uma borboleta passando.

Como romancista e crítico, também gostava de captar espécimes de escrita e alfinetar seu sentido exato, como insetos num estojo, para admirá-los. As duas paixões o levaram a tentar identificar em que tipo de inseto Kafka tinha, afinal, transformado Gregor Samsa, em A Metamorfose. Na história do Kafka, um dia Gregor Samsa acorda de um sono inquietante e se vê transformado num monstruoso... o que, exatamente?

Convencionou-se que o desafortunado Gregor acordou transformado numa barata. Nabokov concluiu que o inseto era um grande besouro, e estranhou que Kafka ignorasse que os besouros têm asas. Se o inseto do Kafka pudesse sair voando a história teria outro sentido. Ou mais um sentido, além de todas as outras interpretações dadas à obscura alegoria. Nabokov dedica a sua conjetura sobre as asas (está na coleção de palestras sobre literatura que fez antes de ficar famoso com a publicação de Lolita) a todas as pessoas que têm asas mas não sabem. Entre as muitas interpretações de ''A metamorfose'' a que Nabokov rejeita com mais desdém é a freudiana, segundo a qual a origem da história é a relação difícil do Kafka com seu pai, e seu sentimento de culpa. Freud era uma das principais antipatias de Nabokov. E elas não eram poucas.

Metamorfoses atrás de interpretações, freudianas ou não, existem desde antes de Ovídio, na mitologia e na literatura. Num livro sobre o tema - chamado Fantastic Metamorphoses, Other Worlds, não sei se foi traduzido - Marina Warner descreve, por exemplo, a transformação sofrida pela palavra e o conceito de "zumbi" através dos anos. Segundo Warner, "Zombie" apareceu em inglês pela primeira vez numa História do Brasil em três volumes escrita por Robert Southey e publicada na Inglaterra entre 1810 e 1819. Southey relata a revolta de escravos e índios contra os colonizadores, liderados por "Zombi", que identificam com um Deus angolano, e que acaba barbaramente sacrificado no fim da revolta. Depois da derrota do "Zombi" descrito por Southey, que inspirou protestos e poemas na Europa, ganhou corpo a versão oficial de que "Zumbi" era o nome do Diabo na língua dos africanos, o primeiro passo para transformar o mártir não em herói venerável mas em assombração. De líder libertário de pessoas que preferiram morrer a ser escravos o nome foi lentamente se metamorfizando até significar um corpo vazio, sem emoção ou discernimento, a carcaça do que fora um dia. O zumbi de agora é o zumbi de antes, vencido e eviscerado.

Na sua palestra sobre A Metamorfose do Kafka, Nabokov não propõe nenhuma interpretação, pelo menos nenhuma com uma inegável marca pessoal. Nota certas reincidências no texto - como o número três (as três portas do quarto de Gregor, os tres membros da família mais três empregados, os três hospedes com três barbas) - mas recomenda que não se dê muita importância à coincidência, que é mais técnica do que simbólica. A fantasia de Kafka tinha sua lógica, e o que pode ser mais lógico do que o velho trio, tese, antítese e síntese? Acima de tudo se deveria evitar qualquer mito proposto por seguidores do "feiticeiro de Viena", que era como ele chamava o Freud.

Para Nabokov, interpretações além da realidade do texto eram desnecessárias. Afinal, nós todos já tivemos a sensação de acordar estranhamente, como Gregor Samsa. "Acordar como um inseto não é muito diferente do que acordar como Napoleão ou George Washington", diz Nabokov. E conta: "Conheci um homem que acordou como o Imperador do Brasil."

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