S.Klein forwarded an
article by Harry Williams*, titled "Sons and Lovers". David
Rieff's and Dmitri's present choices concerning their parent's
literary work were strangely linked to one of D.H.Lawrence's novels. I
didn't get the point and, for the moment, I consider H.William's choice
a poor in alusion and in bad taste, considering VN's dislike of
D.H.Lawrence and to this novel in particular.
H.W mentioned a BBC interview, one which I hadn´t bothered to
watch until last Sunday[ http://news.bbc.co.uk/2/hi/programmes/newsnight/7735483.stm.] What a contrast bt. Stephen Smith ( Nov. 18) and
H. Williams!
The
delightful BBC interviews and images, among other
things, exhibited a miniature chess-set, close to the lines
in TOOL that mentioned "joggle".
It made me
recollect TRLSK, because I'd spotted in it a
possible reference to Adam de la Halle, member of the
"Confrérie des jongleurs et bourgeois d'Arras," during the
decline of courtly love and chivalry. "Robin et Marion", one of Adam's seventeenth century "musical
comedies" depicts how a knight tries to rape a young peasant girl
and how her lover, Robin, "didn't hit back" (cf. initial title of SK's
novel "Success" in TRLSK).
The video caption broke my numbness
in relation to mediatic repetitions and TOOL...
In "The Nabokovian", n.42 (Spring 1999) we read,
on page 37: "the pin-sized pawns penetrated easily,
but the slightly larger noblemen had to be forced in with an enervating
joggle." S.Smith was
then high-lighting sexual allusions in TOOL: how Flora "knew all
the moves", like young Daisy before her, plus those
other almost innocent words, "penetrate", "tickly-looking little
holes",aso - among less perspicuous others ( "had loved the en passant trick...""though he tried to prepare those magic positions where the
ghost of a pawn can be captured on the square it has
crossed").
Chess-moves and problems, not only crude
sexual innuendoes, are indicated, as well as the contrast between
the more agile pawns and "nobility" ( similar in spirit
to the medieval verses). This is why I felt inclined
to give a second look to this "enervating joggle".
In its glaringly obvious sense "joggle"
means: "shake or move by or as if by repeated jerks". Nevertheless it also
bears ghostly pawns and real conjuring tricks ( in its
present association to "juggler", "joggling" and
"jongleur"). Such an "enchanter's" move might
then metamorphose what VN had disdainfully treated in his afterword to
"Lolita" - qua pornographic novels and "real fairy tales"-
into one of Nabokov's real challenges and "chess-moves" in
TOOL.
Btw: Boticelli's allegory of Spring (mentioned in
LATH, linked to Lolita by another Boticelly
painting) takes us to VN's choice of the name "Flora" - and what about "Laura"?.
In relation to "metamorphoses", last Sunday, in
an important newspaper in São Paulo (OESP, Nov.30,2008) cartoonist humorist
and critic Luiz Fernando Veríssimo dedicated almost all his space to
Nabokov and Kafka's Gregor Samsa. He was then discussing a
recent Nov.20th holiday, set in homage to runaway slave Zumbi dos
Palmares and the "dia Nacional da consciência Negra.".
Veríssimo examined the etymology of the word "Zombie" in
English (obtained from Marina Warner's Fantastic Metamorphoses, Other
Worlds) and how Zumbi's heroism and initiative was
distorted when metamorphosed into "Zombie". Veríssimo's comments - he is one of Nabokov admirers in
Brazil - on VN's lecture on Kafka didn't sound very appreciative, though (
VN doesnt' bring up any interpretation, at least there is none with an
undeniable personal mark. He notes certain recurring incidents in the text with
the number three but recommends that these are not to be taken as coincidences
that bear any symbolism, they are more "technical" in nature...) ,
but then Veríssimio didn't sufficiently account for VN's strong
distaste of any critical "allegory-reading" into R.L.Stevenson's J&H and
Kafka's "specific fantasies".
Veríssimo's closing lines quote VN, "I knew a man who awoke as the Emperor of
Brazil"...**
( I haven't yet obtained Veríssimo's
URL , only the loose text; VN's lines on "Emperor of Brazil"
are on p.260, Bowers LOL).
....................................................
**
** The complete article:
OESP/Caderno 2 - domingo, 30 de Novembro de 2008
Verissimo
Vladimir Nabokov era um lepidopterólogo, palavra que lembra
uma borboleta passando.
Como romancista e crítico, também gostava de
captar espécimes de escrita e alfinetar seu sentido exato, como insetos num
estojo, para admirá-los. As duas paixões o levaram a tentar identificar em que
tipo de inseto Kafka tinha, afinal, transformado Gregor Samsa, em A Metamorfose.
Na história do Kafka, um dia Gregor Samsa acorda de um sono inquietante e se vê
transformado num monstruoso... o que, exatamente?
Convencionou-se que o
desafortunado Gregor acordou transformado numa barata. Nabokov concluiu que o
inseto era um grande besouro, e estranhou que Kafka ignorasse que os besouros
têm asas. Se o inseto do Kafka pudesse sair voando a história teria outro
sentido. Ou mais um sentido, além de todas as outras interpretações dadas à
obscura alegoria. Nabokov dedica a sua conjetura sobre as asas (está na coleção
de palestras sobre literatura que fez antes de ficar famoso com a publicação de
Lolita) a todas as pessoas que têm asas mas não sabem. Entre as muitas
interpretações de ''A metamorfose'' a que Nabokov rejeita com mais desdém é a
freudiana, segundo a qual a origem da história é a relação difícil do Kafka com
seu pai, e seu sentimento de culpa. Freud era uma das principais antipatias de
Nabokov. E elas não eram poucas.
Metamorfoses atrás de interpretações,
freudianas ou não, existem desde antes de Ovídio, na mitologia e na literatura.
Num livro sobre o tema - chamado Fantastic Metamorphoses, Other Worlds, não sei
se foi traduzido - Marina Warner descreve, por exemplo, a transformação sofrida
pela palavra e o conceito de "zumbi" através dos anos. Segundo Warner, "Zombie"
apareceu em inglês pela primeira vez numa História do Brasil em três volumes
escrita por Robert Southey e publicada na Inglaterra entre 1810 e 1819. Southey
relata a revolta de escravos e índios contra os colonizadores, liderados por
"Zombi", que identificam com um Deus angolano, e que acaba barbaramente
sacrificado no fim da revolta. Depois da derrota do "Zombi" descrito por
Southey, que inspirou protestos e poemas na Europa, ganhou corpo a versão
oficial de que "Zumbi" era o nome do Diabo na língua dos africanos, o primeiro
passo para transformar o mártir não em herói venerável mas em assombração. De
líder libertário de pessoas que preferiram morrer a ser escravos o nome foi
lentamente se metamorfizando até significar um corpo vazio, sem emoção ou
discernimento, a carcaça do que fora um dia. O zumbi de agora é o zumbi de
antes, vencido e eviscerado.
Na sua palestra
sobre A Metamorfose do Kafka, Nabokov não propõe nenhuma interpretação, pelo
menos nenhuma com uma inegável marca pessoal. Nota certas reincidências no texto
- como o número três (as três portas do quarto de Gregor, os tres membros da
família mais três empregados, os três hospedes com três barbas) - mas recomenda
que não se dê muita importância à coincidência, que é mais técnica do que
simbólica. A fantasia de Kafka tinha sua lógica, e o que pode ser mais lógico do
que o velho trio, tese, antítese e síntese? Acima de tudo se deveria evitar
qualquer mito proposto por seguidores do "feiticeiro de Viena", que era como ele
chamava o Freud.
Para Nabokov, interpretações além da realidade do texto
eram desnecessárias. Afinal, nós todos já tivemos a sensação de acordar
estranhamente, como Gregor Samsa. "Acordar como um inseto não é muito diferente
do que acordar como Napoleão ou George Washington", diz Nabokov. E conta:
"Conheci um homem que acordou como o Imperador do
Brasil."